Caetano Veloso comentou no antigo “Programa Livre” que era muito amigo de Toquarto Neto e de seu pai, mas que, no momento em que Toquarto se matou, já fazia tempo que não se viam.
Disse ainda que anos após a morte do amigo, a mãe do mesmo teve sério problema de saúde e foi hospitalizada. Nesse momento, Caetano foi visitar o pai do Toquarto, mas que acabou se emociando demais no encontro e que chorou muito naquele dia, sendo que o pai do Toquarto é que teve que ampará-lo.
Caetano contou que pouco conversaram naquele encontro.
Determinada hora, o pai do Toquarto lhe serviu uma cajuína e o deixou sozinho na sala da casa e foi ao quintal.
Quando retornou, estava com uma rosa pequenina nas mãos e a ofereceu ao Caetano.
Disso surgiu sua inspiração para a música.
Penso que Cajuína é uma música escrita para Toquarto Neto, mas direcionada mais diretamente ao pai dele, além de ao próprio Caetano Veloso, tendo como pano de fundo uma reflexão sobre a própria vida.
Vejamos:
“Existirmos: a que será que se destina”
O poeta divagando…
“Pois quando tu me deste a rosa pequenina”
Está falando do momento em que o pai do Toquarto lhe deu a rosa pequenina
“Vi que és um homem lindo [...]”
Creio que aqui começam a se “misturar as homenagens”. O tal “homem lindo” pode ser tanto o pai (destinatário direto da canção, creio) quanto ao próprio Toquarto, em uma reminiscência do amigo, sendo que o adjetivo em questão esta fazendo referência à qualidades do tal “homem” enquanto pessoa.
“[...]e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina”
Nesse trecho, creio que “a sina do menino infeliz” pode tanto significar a sina de Toquarto, que havia se matado, quanto, mais remotamente, a do próprio Caetano, que estava muito triste e chorando naquele dia. Ele que, provavelmente, teria ido visitar o pai do Toquarto para apoiá-lo na fase difícil em que se encontrava, com a mulher hospitalizada.
Nesse passo, o “nos” da expressão “nos ilumina” poderia significar tanto Caetano e o pai do Toquarto, quanto um aspecto mais geral, com a intenção do poeta de ter seu poema como uma reflexidão diante da vida.
“Tampouco turva-se a lágrima nordestina”
Se é certo que a sina do menino infeliz não nos ilumina (morte do Toquarto ou o choro descompassado do Caetano) não melhorou a vida de ninguém, nem do pai dele, nem do Caetano, por óbvio, não modificou aquilo que lhe causou a depressão, tal como o choro do Caetano não ajudou de modo algum o pai do falecido; ela também não fez “turvar a lágria nordestina”. Para mim, Caetano pode estar a afirmar que, claro, o pai do Toquarto não se iluminou com a morte do filho, mas que também não o abalou a ponto de chorar, no sentido de padecer em sofrimento. Não porque não sofresse com a morte do filho, mas, nordestino, é antes de tudo um forte.
“Apenas a matéria vida era tão fina”
A “matéria vida era tão fina” a representar o magro Toquarto, segundo algum colega aqui expôs, também, em um lindo jogo de palavras, expõe a fragilidade da vida, em todos os sentidos possíveis.
“E éramos olharmo-nos intacta retina”
Sendo que toda essa reflexão se deu apenas pelo olhar, já que não trocaram muitas palavras naquele momento.
“A cajuína cristalina em Teresina”
E o que sobra é a cajuína, cristalina, em Teresina; representando Toquarto, seu pai, Caetano ou a própria… vida? Para mim, tudo isso.
Fonte: Analise de Letras
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